Hoje, as plataformas digitais parecem algo banal. Em um mundo cada vez mais digitalizado, é estranho pensar em comprar e se conectar com outras pessoas sem esse recurso tecnológico. No mundo empresarial, esse estranhamento tem sido cada vez mais comum.
Plataformas digitais são modelos de negócios que funcionam a partir de tecnologias avançadas capazes de conectar consumidores e produtores. Diferentemente das empresas do passo, hoje as companhias não buscam simplesmente vender, mas estabelecer uma relação de troca que abrange outros aspectos como entretenimento, lazer e trabalho.
Dessa forma, os negócios que envolvem plataforma se diferenciam por reunir consumidores e produtores em ambientes digitais que permitem trocas de alto valor. A união entre informação e as interações é a fonte do valor que cria a vantagem competitiva desse tipo de negócio em relação aos concorrentes.
Um exemplo disso é a Apple, criadora do iPhone e do sistema iOS (sistema operacional que não é somente um canal para serviços, mas principalmente um meio de conectar clientes em mercados bilaterais que desenvolvem aplicativos, gerando valor para ele e seus respectivos usuários).
No início de 2015, a loja de aplicativos da Apple ofereceu nada menos do que 1,4 milhão de apps e gerou US$ 25 bilhões para os desenvolvedores, tirando o posto de liderança de empresas gigantes do setor como a Nokia, a Motorola e a Sony.
Um artigo publicado na Harvard Business Review aponta que cinco em cada dez das empresas mais valiosas no mundo hoje obtêm o seu valor de plataformas multilaterais, que são capazes de facilitar transações ou a interação entre diferentes atores.
Nesse contexto, inúmeras plataformas multilaterais valem mais do que companhias nas mesmas indústrias que produzem apenas serviços e produtos. Mesmo assim, companhias que não nasceram como um negócio de plataformas ainda têm dificuldades de reconhecer que precisam transformar (pelo menos parcialmente) os seus produtos ou serviços em uma plataforma.
Tecnologias
Três tecnologias facilitaram o desenvolvimento e o crescimento dessas plataformas. Uma delas é a nuvem, que permite que qualquer pessoa acesse aplicativos e crie conteúdos para uma audiência global. Há também as redes sociais, que também conectam pessoas de diferentes lugares do mundo. Por fim, destacam-se os dispositivos móveis, que facilitam a conexão a uma plataforma digital em qualquer lugar e hora.
A partir delas, criou-se uma rede acessível para consumidores e empreendedores que trocam conteúdos, produtos e serviços. Assim, os negócios que utilizam plataformas não se limitam a vender serviços e produtos, como ocorre com as empresas tradicionais, mas sim ser uma rede que conecta esses agentes.
É essa capacidade de conectar diferentes agentes de todos os lugares do mundo, atrair mais participantes e permitir um fluxo de trocas dinâmico o que confere ainda mais valor para as empresas que utilizam plataformas.
Impacto dos dados
O levantamento e uso de dados também assume cada vez mais importância nesse contexto. Isso é evidenciado pelo aumento do investimento em cientistas e tecnologias de dados.
A partir do levantamento de dados em um volume inimaginável até então, as empresas conseguem ter modelos de previsões probabilísticas sobre os mais variados fatores (o que influencia o consumo dos clientes, os riscos e possibilidades de um novo lançamento, as oscilações no mercado nos últimos meses, entre outros). Tudo isso é fundamental para uma tomada de decisões mais assertiva e capaz de criar soluções inovadoras em relação aos concorrentes.
Um artigo publicado no periódico da Wall Street Journal enfatiza que a revolução promovida pelos softwares já transformou enormemente o mundo dos negócios e a tendência é que os processos desenvolvidos daqui para frente sejam constantemente reformulados a ponto de não precisarem mais de intervenções humanas.
Anos atrás, a novidade na gestão empresarial era o chamado “data-driven business” (negócio orientado por dados), que previa a atuação da empresa baseada em um levantamento e uma boa análise de dados.
Hoje, esse modelo já se transformou e culminou no model-driven business (negócio orientado por modelo), no qual um algoritmo faz uma previsão ou recomendação baseado em um uma avaliação probabilística. Enquanto no data-driven business os dados ajudam o negócio, no último, os modelos são o negócio. Esse salto ocorre porque, uma vez criado, um modelo pode aprender das falhas e acertos com uma velocidade e sofisticação dificilmente alcançadas por humanos.
O model-driven business utiliza modelos para potencializar as decisões-chave em seu modelo de negócios, aumentando o faturamento e melhorando os custos. Para criá-lo, é preciso ter mecanismos de software para coletar dados, processos para criar modelos e outra ferramenta de software para entregar as sugestões originadas por tais modelos.
Utilizar dados e plataformas para transformar o seu modelo de negócios tem inúmeros impactos positivos – como permitir uma maior conexão entre os consumidores e abrir mais portas para vendedores que desejam alcançar a sua base de clientes.
Uma plataforma multilateral possibilita a conexão entre vendedores e clientes – seja em vendas ou publicidade. Os produtos de um terceiro podem ser independentes do serviço ou produto da empresa que utiliza essa plataforma ou pode trabalhar em conjunto com eles.
Antes de transformar produtos e serviços em plataformas multilaterais, a Harvard Business Review recomenda aos empresários e investidores responderem a três questões básicas: quais são os benefícios disso? Existem riscos envolvidos? Quais recursos, mudanças organizacionais e relações (incluindo a interação com os clientes) essa transformação requer?
Driven e Bancoob
Um exemplo da importância do impacto do bom uso de dados e plataformas em um modelo de negócios ocorreu na parceria entre a Driven e a Coopera – considerada o primeiro marketplace brasileiro de um banco múltiplo privado para cooperativas de crédito. Essa empresa Somos funciona como shopping virtual e programa de fidelidade ao mesmo tempo.
Em 2019, a Coopera obteve R$3,2 bilhões gastos no e-commerce e hoje possui mais de 4,6 milhões de cooperados e mais de 100 milhões de pontos resgatados em programas de fidelidade.
Os principais desafios da Coopera no momento em que a parceria com a Driven foi estabelecida eram: ampliar a sua proposta de valor, serviços e experiência (para alcançar novas fontes de receita e públicos), ampliar o ecossistema Sicoob (criando uma fidelização que engajasse clientes atuais e potenciais e transformar o programa de fidelidade como alavanca de transformação digital.
Essas novas propostas requeriam a criação de um ambiente único a partir dos pontos do cartão de crédito e a criação e uma nova modelagem de negócios que envolvesse o marketplace e a digitalização dos cooperados.
A Driven trouxe algumas soluções inovadoras para tais desafios. Primeiramente, apoiamos análises macroeconômicas para desenvolver um novo plano de negócios que fosse aprovado pelo conselho de administração da Coopera. Além disso, desenhamos um modelo de negócio com diversas fontes de renda e descrevemos a tecnologia envolvida nesse processo.
Outra solução foi repensar o relacionamento com os cooperados, verificando as formas de engajamento da base ativa e inativa. Outra inovação foi levar o serviço de viagem para o interior do marketplace – o que precisou de um ano para ser viabilizado, dada a sua complexidade.
A Driven também reconheceu a necessidade de oferecer um ambiente de venda digital para o novo cooperado, agregando interface de gestão e de venda externa, a fim de oferecer o melhor atendimento possível.
A Driven ajudou a redesenhar a arquitetura do ecossistema para comportar o crescimento e a escalada do negócio, a partir de um planejamento operacional mercadológico e financeiro. O ecossistema e a dinâmica de relacionamento com o cooperado ocorreu a partir da plataforma VTEX, o que culminou na criação de uma experiência do usuário mais atraente e interativa.
Nessa parceria, o valor entregue pela Driven ao cliente envolveu a construção de ecossistema com diferentes parceiros de tecnologia integrada em um único projeto, a recriação do canal de relacionamento para oferecer uma nova experiência de usuário e um projeto digital com ênfase na cooperação, produzindo um marketplace mais integrativo entre a empresa, os vendedores e os consumidores.
Essa parceria entre a Driven e a Coopera evidenciou que a criação de um ecossistema foi fundamental para promover os diferentes agentes e uniformizar a experiência dos clientes.
A concepção de um novo ambiente digital a partir de uma plataforma que centralizasse os produtos e serviços da Coopera também foi essencial para criar serviços e produtos úteis não somente para o usuário final, mas também para as mais de 400 operadores de crédito.
Esse exemplo mostra como os dados e as plataformas têm assumido um papel cada vez mais relevante, já que esses recursos podem solucionar problemas complexos e oferecer diferenciais competitivos para as empresas que os adotam de forma sistêmica em seus projetos.