O desenvolvimento tecnológico intenso e a diversificação dos segmentos econômicos vistos nos últimos anos dinamizou o mundo dos negócios e trouxe novos desafios para a organização de equipes, modelos de negócios e metodologias produtivas.
Hoje, cada empresa precisa definir muito bem os seus mecanismos de atuação – desde as metodologias adotadas pela equipe, os canais internos de comunicação, procedimentos para garantir uma experiência do usuário eficaz e personalizada, meios para analisar com precisão quais são as principais oportunidades e riscos no mercado em que atua, entre outros fatores.
Essa complexidade explica por que o ecossistema de negócios vem adquirindo cada vez mais importância nos modelos de gerenciamento empresarial. O conceito de ecossistema é emprestado da Biologia – na qual se refere ao conjunto de comunidades que compartilham determinado espaço da natureza, interagindo com o meio ambiente e entre si. Foi a partir disso que o mundo corporativo pensou como seria um ecossistema aplicado ao mundo dos negócios, fazendo as adaptações necessárias.
O que é?
O conceito de ecossistema de negócios engloba a inovação nos modelos de gerenciamento empresarial e considera toda a comunidade econômica envolvida com o trabalho realizado.
Esse conceito trata de estruturas dinâmicas de diferentes organizações que são interligadas e interdependentes. A ideia aqui não é a concorrência, mas a cooperação mútua e a sinergia, a fim de gerar mais valor para os clientes e consolidar no mercado as diferentes empresas envolvidas no processo.
Além das empresas, outros agentes que compõem um ecossistema de negócios são os fornecedores, os clientes, o governo, as instituições de ensino e os concorrentes.
Transformações no tempo
É importante ressaltar que o sistema de ecossistema de negócios sofreu inúmeras transformações ao longo do tempo, em resposta às novas demandas de cada época.
Na década de 1990, esse modelo era constituído por grandes conglomerados comerciais marcados pela prosperidade econômica. O poder era centralizado e todas as estratégias eram determinadas pelos diretores. A principal limitação do ecossistema de negócios nesse momento é que as decisões ficavam restritas a poucas pessoas, o que reduzia a formulação de análises que considerassem inúmeros fatores e criassem soluções diversificadas.
No início dos anos 2000, o modelo que passou a predominar foi o distribuído. A principal razão para essa mudança foi o desenvolvimento tecnológico que permitiu a digitalização dos negócios, o que exigiu e permitiu uma maior agilidade para desenvolver e implementar as estratégias. Nesse contexto, as empresas se viram impelidas a distribuir mais as atividades em unidades menores que tivessem mais independência e autonomia para integrar o processo produtivo geral.
A partir de 2010, o mundo dos negócios se encontrava altamente digitalizado e precisava dar respostas inovadoras para novos mercados que surgiam. Para isso, as empresas adotaram a estratégia do modelo compartilhado a partir de um trabalho mais integrado e dividido entre diferentes setores ou parceiros, a fim de agilizar a tomada de decisões e a implantação de novas estratégias nos negócios.
Modelo Alibaba
Em um mundo marcado pelo dinamismo e necessidade de adaptação constante às novas preferências dos consumidores, é preciso estruturar um bom ecossistema de negócios para ser capaz de responder às novas demandas, acompanhar tendências e manter a competitividade.
Um exemplo disso ocorre com o Grupo Alibaba – conjunto de empresas de propriedade privada sediada em Hangzhou, na China. O seu negócio é baseado em e-commerce e inclui vendas no varejo, pagamentos online, sites (incluindo aqueles business-to-business – modelo em que as empresas fazem negócios entre si), vendas no varejo e pagamentos online.
Desde a sua criação, em 1999, o Alibaba vive um crescimento grandioso e contínuo em sua plataforma e-commerce. A sua principal inovação é a construção de um ecossistema verdadeiro: uma comunidade de múltiplos organismos (empresas e clientes de diferentes tipos) interagindo uns com os outros em uma plataforma virtual e mantendo uma boa integração entre elementos online e offline.
O principal diferencial do Alibaba é a sua capacidade de facilitar a atuação de empresas no comércio online, funcionando como um motor de busca para compras e serviços de computação na nuvem. Fundado pelo investidor e empresário Jack Ma, esse grupo tem por principal objetivo tornar o comércio eletrônico mais eficiente, rápido e lucrativo.
Diferentemente de outras empresas desse setor, o Grupo Alibaba não cria ou mantém estoque nem solicita a terceiros a prestação de serviços logísticos. Em vez disso, o Grupo centraliza todas as funções associadas ao varejo e as coordena no digital a partir de uma rede (network) de vendedores, profissionais do Marketing, provedores de serviços, fabricantes, entre outros agentes.
De acordo com um artigo publicado pela Harvard Business Review, o Grupo Alibaba esteve nas manchetes de todo o mundo ao atingir o maior IPO do mundo em Setembro de 2014 (IPO é a sigla inglesa para a expressão Oferta Pública Inicial, que se refere à abertura de capital de uma empresa). Hoje, a companhia possui uma das dez maiores capitalizações de mercado do planeta e expandiu a sua atuação em importantes segmentos globais.
Negócio inteligente
O ecossistema de negócios do Grupo Alibaba é estruturado pelo conceito de “smart business”, que prevê o envolvimento de todos os agentes a fim de atingir um objetivo comum, em um trabalho coordenado que utiliza um bom network online e tecnologia de aprendizado de máquina (método de análise de dados que automatiza a construção de modelos analíticos).
Todos esses fatores garantem uma boa alavancagem de dados em tempo real e uma enorme vantagem competitiva em relação aos modelos de negócio tradicionais. No ecossistema do Alibaba, a maioria das decisões operacionais são realizadas por máquinas, o que permite às companhias se adaptarem de forma dinâmica às novas condições do mercado e preferências dos clientes.
Os cientistas de dados criam modelos de previsões probabilísticas para ações específicas, o que ajuda a produzir melhores decisões em tempo real a partir de cada iteração (repetição de uma ou mais ações no mundo da programação).
Esses cientistas no Alibaba são essenciais para identificar e testar dados capazes de fornecer os insights procurados e criar os algoritmos necessários para extrair dados.
Esses modelos de previsão se tornaram a base da maioria das decisões dos negócios do Grupo Alibaba. Associado ao aprendizado de máquina, a tomada de decisão hoje realizada por humanos vai ser feita por algoritmos.
A criação desse negócio inteligente é dividida em algumas etapas. A primeira, chamada de Datafy ou dataficação, se baseia em mapear, coletar e classificar dados das mais diferentes situações. Um exemplo disso na China ocorreu com o aluguel de bicicletas. A partir de um levantamento preciso de dados, a Alibaba melhorou a experiência do usuário ao combinar QR Codes e cadeados eletrônicos que automatizam o processo de forma inteligente.
Ao abrir o aplicativo de aluguel de bicicletas, o usuário pode visualizar onde existe uma bicicleta disponível para alugar mais perto do seu endereço e apenas escanear o QR Code ao se aproximar dela. O uso de tecnologia de dados permitiu às empresas disponibilizarem bicicletas nos locais mais acessados pelos usuários e criar um sistema regular de alertas para informá-los. Esse ecossistema promoveu uma queda de 10% no custo de aluguel de bicicleta na China por hora.
A próxima etapa é submeter todas as atividades de um negócio a um software. Isso é fundamental para automatizar e agilizar a tomada de decisões. Softwares tradicionais tornam esse processo mais rígido, enquanto aqueles usados no modelo de negócio inteligente conferem respostas dinâmicas em tempo real.
A terceira etapa é manter um bom fluxo de dados. Um ecossistema com diversos agentes interconectados requer uma coordenação complexa entre sistemas de vendedores, plataformas de social mídia dos consumidores e diferentes programas de fidelidade e descontos.
A última etapa é a aplicação de algoritmos. As operações ocorrem virtualmente, o que levanta um volume de dados inimaginável anos atrás. Nesse contexto, é fundamental criar modelos e algoritmos capazes de explicitar a base das dinâmicas do mercado e lógicas do produto que a empresa está buscando otimizar. Esse processo requer habilidades transdisciplinares que envolvem desde programação até economia e marketing, a fim de especificar a tarefa que cada máquina deve fazer.
O ecossistema de negócios do Alibaba evidencia a necessidade de apostar na cooperação e integração de diferentes atores, além de um levantamento preciso e rápido de um grande volume de dados. Garantir uma boa experiência do usuário, acompanhar as mudanças nas demandas e oferecer soluções rápidas e personalizadas são fatores essenciais em um bom ecossistema de negócios no mundo atual.