O processo de capacitação e desenvolvimento de pessoas é fundamental em qualquer instituição, seja ela pública ou privada. Em um mundo cada vez mais marcado pela conectividade digital, as instituições devem estar constantemente revendo e atualizando esses processos a fim de formar as melhores equipes.
Nos últimos 400 anos, ocorreram diferentes revoluções industriais que mudaram significativamente o mundo sob vários aspectos – desde o modo produtivo até os costumes e os valores sociais.
Enquanto a primeira revolução industrial trouxe a mecanização a vapor (1784), a segunda teve a eletricidade como sua grande conquista (1890) e a terceira foi marcada pelo início da Tecnologia da Informação (a partir dos microprocessadores) no fim dos anos 1960. Alguns especialistas apontam que vivemos hoje a quarta revolução industrial, promovida pela Inteligência Artificial (IA).
A IA é um campo das ciências da computação composto por um sistema que simula uma inteligência similar à humana. Indo além da programação de ordens específicas, essa inteligência toma decisões de forma autônoma, tendo por base padrões obtidos de enormes bancos de dados. Um fenômeno de revolução é a chamada “indústria 4.0”.
Indústria 4.0
Essa indústria é estruturada pelos rápidos avanços tecnológicos e a necessidade de se manter atualizada nas ferramentas e metodologias virtuais que cada vez mais estruturam o mundo do trabalho. Hoje, o desafio não é somente concluir uma graduação e realizar cursos de especialização, mas não deixar que a sua preparação e conhecimento se tornem obsoletos em um curto prazo.
Um estudo publicado pelo Fórum Econômico Mundial aponta algumas tendências do futuro mercado de trabalho no que se refere às habilidades e estratégias estratégicas na quarta revolução industrial. A previsão é que 35% das competências desenvolvidas pelos profissionais de setores (como energia, serviços, mobilidade, mídia, varejo, entre outros) devem perder a utilidade em um período máximo de cinco anos.
Nesse contexto, as empresas procuram aproveitar as tecnologias emergentes para melhorar os seus níveis de eficiência e produtividade, expandir sua atuação em novos mercados e oferecer novos produtos ou serviços em um mercado global em que os nativos digitais ganham cada vez mais espaço.
Outro diferencial nessa indústria é a capacidade de oferecer habilidades transdisciplinares, já que muitos empregos (especialmente na área tecnológica) não respeitam as fronteiras muitas vezes existentes nos cursos universitários e exigem uma integração de diferentes áreas de conhecimento a fim de ampliar a sua inovação e fortalecer a sua marca.
Habilidades
Mediante tantas transformações, uma pergunta comum é: quais são as habilidades mais valorizadas nesse cenário? Questões como essa mostram a complexidade vivida nas universidades, que hoje oferecem cursos diversos para profissões que elas ainda não sabem quais serão. Se antes os cursos universitários formavam para determinadas profissões, hoje a ideia é formar para possibilidades.
Na era da transformação 4.0, as chamadas “soft skills” ganham cada vez mais relevância. Essas habilidades envolvem a relação e a interação com outras pessoas, como a resiliência, a empatia, a colaboração e a comunicação. Todas elas estão baseadas na inteligência emocional, que é cada vez mais usada para diferenciar os profissionais que se destacam no mercado.
Outras habilidades que são cada vez mais reconhecidas nessa indústria são a criatividade para criar soluções personalizadas para cada cliente. Além disso, é imprescindível saber trabalhar em equipe, desenvolvendo uma visão global da empresa e compreendendo em que contexto ela atua.
Por fim, outra grande mudança promovida pelo desenvolvimento de novas tecnologias é a capacidade de realizar análises precisas a partir do cruzamento de um grande volume de dados.
A tecnologia é capaz de reunir diferentes dados em plataformas com fácil usabilidade e capazes de centralizar diferentes ferramentas. Contudo, é apenas a tecnologia humana que consegue analisar e criar interpretações adequadas sobre esses dados, a fim de produzir informações que sejam úteis às necessidades e objetivos de uma determinada instituição.
É importante notar que essas mudanças promovidas pela tecnologia se refletem também nos profissionais dos Recursos Humanos (RH). Se antes eles desenvolviam tarefas mecânicas, como estruturar a folha de pagamento, hoje esses processos já são realizados rapidamente a partir de softwares de gestão.
Hoje, isso permite que esses profissionais se concentrem cada vez mais em organizar o clima organizacional das empresas e encontrar os melhores meios para motivar cada funcionário a contribuir da melhor forma possível. Esse processo ilustra bem como as mudanças tecnológicas fazem com que funções precisem ser reinventadas dentro de uma empresa, a fim de atender às novas demandas.
Preparação
Na indústria 4.0, os profissionais de diferentes setores devem enfrentar desafios cada vez maiores para obterem uma formação que esteja à altura dos desafios e oportunidades do mercado de trabalho.
O mesmo cenário de diversificação dos empregos em diferentes segmentos é aquele que exige uma atualização constante de conhecimentos e qualificação, já que não foi só a vida útil das mercadorias que foi reduzida. Se antes um conhecimento adquirido durava, em média, 15 anos, hoje esse prazo se restringe a 3 ou 4.
Um artigo publicado pela Deloitte afirma que outro desafio se refere à forma como o desenvolvimento de carreira está sendo definido. Antes, essa ideia estava fortemente atrelada à ideia de subir em níveis hierárquicos mais altos em uma empresa. Atualmente, a indústria 4.0 traz novos parâmetros para esse conceito, que passa a ser pensado a partir de portfólio de experiências.
Aquela ideia de permanecer 20 anos em uma mesma companhia vem perdendo força e sendo substituída pela busca de uma experiência mais diversificada e inovadora. Outra tendência se refere à ideia de que a preparação para o mercado de trabalho não termina com uma graduação ou especialização, mas se trata de um processo contínuo que acompanha cada profissional durante toda a sua trajetória.
Além disso, os profissionais devem cada vez mais tomar a iniciativa de moldar as suas próprias carreiras de forma personalizada, sem esperar que uma empresa defina quais são os seus objetivos e possibilidades profissionais. Uma ideia cada vez mais presente na indústria 4.0 é a de que se deve estar sempre antenado e aberto para aprender as habilidades emergentes, filtrando as oportunidades de trabalho de acordo com as suas motivações pessoais.
Por fim, se o mundo de trabalho exige alta qualificação e abertura para as transformações digitais, é preciso ter em mente que a cooperação é uma ferramenta cada vez mais essencial para profissionais de diferentes áreas hoje. A ideia é conceber os colegas de trabalho como parceiros e cada trabalho como uma oportunidade de adaptação.
O mesmo vale para as lideranças, que devem deixar para trás o estilo autoritário e são convidados a desenvolver uma visão colaborativa que seja capaz de enxergar o melhor de cada equipe e reconhecer o impacto do trabalho realizado por cada uma. Essas habilidades são fundamentais para cada líder oferecer oportunidades de crescimento e desenvolvimento profissional e pessoal aos seus parceiros de equipe.