O desenvolvimento tecnológico tem criado possibilidades inimagináveis anos atrás. Isso acontece com os novos dispositivos disponíveis não só para consumidores, mas também para as empresas – que têm repensado os seus mecanismos produtivos.
Um exemplo disso ocorre na área da logística, especialidade da administração que envolve técnicas e métodos para otimizar o fluxo de abastecimento de insumos, além da movimentação e estocagem de mercadorias.
Esse setor envolve processos manuais que vão desde a estocagem feita sob diferentes maneiras e em diferentes lugares até a entrega de produtos, envolvendo atividades como previsão de demanda, armazenagem, design de redes de distribuição.
Na última década, a área da logística ganhou ferramentas importantes vinculadas à inteligência artificial e à tecnologia da informação (TI). Esse salto tecnológico tem permitido alcançar novos níveis de integração e eficiência.
Ao afetar todas as áreas internas de uma companhia, a logística exige um trabalho bastante integrado entre diferentes departamentos, como comercial, finanças e marketing, suprimentos, entre outros.
Recursos tecnológicos
Nesse cenário, a Inteligência Artificial (IA) é uma das ferramentas tecnológicas que tem revolucionado o mundo da logística. A IA foi desenvolvida para imitar a capacidade humana de raciocinar e tem assumido um papel cada vez mais importante em diferentes áreas dentro de uma empresa.
Uma das principais vantagens da IA é que ela permite analisar um volume muito maior de dados mais rapidamente e com mais precisão em comparação aos humanos. Essa tecnologia também é capaz de cruzar diferentes dados, estabelecer padrões de repetição e desenhar processos de produção e operação escaláveis e padronizadas, de acordo com as metas e os objetivos estabelecidos pela gestão.
Tudo isso é extremamente estratégico para estabelecer tendências de consumo, reduzir desperdícios e falhas e aumentar a eficiência produtiva, proporcionando melhores experiências de consumo.
É importante ressaltar também que a IA é o ponto de partida para que outras tecnologias funcionem. O Big Data, por exemplo, só alcança todo o seu potencial se vem associado à IA. Afinal, não adianta reunir um volume enorme de dados disponíveis na rede se o software não conseguir filtrar as informações, captar padrões e apontar soluções a partir delas.
A Tecnologia da Informação (TI) também tem trazido novos resultados na logística. Essa ferramenta é utilizada para a reformulação de processos referentes ao planejamento de demanda, armazenagem e distribuição. Assim, a TI garante que os fluxos sejam mais eficazes e tragam resultados melhores para as empresas.
Um exemplo disso é o Intercâmbio Eletrônico de Dados (“EDI”, em inglês) em centros de distribuição. Esse recurso automatiza o compartilhamento de informações entre sistemas da empresa (ou de terceiros), o que economiza tempo ao tornar desnecessária a inserção manual de dados. Essa tecnologia permite que tais informações sejam transmitidas eletronicamente com mais agilidade, o que reduz os erros e proporciona melhores resultados.
Pandemia
Se a expansão das atividades das empresas para o mundo digital já era uma realidade notável, a chegada da Covid-19 intensificou esse processo de forma urgente. O fechamento de diferentes estabelecimentos comerciais visando reduzir as aglomerações e a disseminação do novo coronavírus obrigou estabelecimentos comerciais de diferentes portes a abrirem lojas virtuais para não reduzir ainda mais o seu faturamento.
Uma pesquisa realizada pela parceria entre a Neotrust e a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm) mostra que as vendas no comércio digital em 2020 cresceram 68% em comparação ao ano de 2019. Na prática, isso significa que a participação do ecommerce no faturamento total do varejo simplesmente saltou de 5% para 10% em alguns meses no ano passado.
Dados da Paypal (plataforma online de pagamento) apontam que o número de lojas virtuais brasileiras saltou de 930 mil para 1,3 milhão entre agosto de 2019 e 2020, o que correspondeu a um aumento de 40,7%. Do total de lojas abertas no comércio virtual, quase metade foram pequenos negócios.
Esse cenário impactou diretamente a área de logística, exigindo maior organização e sistematização de dados para organizar e repor estoque, além de preparação para entregar na data indicada. Impossibilitadas de abrir em função da pandemia, as lojas físicas foram transformadas em estoques avançados de produtos.
De acordo com o site Mercado e Consumo, esta foi a solução adotada por empresas como a Magazine Luiza no pico da pandemia em 2020. A empresa transformou 700 das suas 1.100 lojas (ou 63%) em pequenos estoques e passou a atender 35% de suas entregas totais em até 24h.
Outro impacto relevante provocado pela pandemia na área de logística foi a necessidade de garantir melhor e maior higienização de produtos. Nesse cenário, a logística precisou criar novas rotinas de cuidados nos processos de armazenamento, embalagem e transporte de produtos a fim de reduzir as chances de contaminação durante a cadeia produtiva, protegendo desde os seus funcionários, parceiros, prestadores de serviços até o consumidor final.
Por fim, a imposição da migração para o comércio digital motivou empresas de diversos portes a buscarem plataformas de marketplace para ampliar a sua divulgação aos clientes. O crescimento da busca por mecanismos virtuais de venda obrigou os principais marketplaces a ampliarem a sua malha logística de distribuição. Nesse aspecto, a logística se tornou uma área primordial para garantir a competitividade das empresas, conforme apontou esse artigo da Supply Magazine.
Virtualmente, o centro de logística passa a ser composto por diferentes ecossistemas digitais que garantem etapas essenciais como a localização e a codificação dos produtos, o mapeamento automatizado de rotas de entrega de encomendas e a entrega mais rápida.
Na pandemia, agilizar a entrega se tornou um diferencial essencial: nesse novo contexto, Mercado Livre tem a capacidade de entregar 70% dos produtos em um dia e 80% em até dois dias. Tudo isso contribui para que empresas de diferentes segmentos econômicos sejam mais competitivas no mercado nacional e internacional.
Tendências
A partir das novas exigências do atual contexto econômico, analistas apontam possíveis tendências para o setor de logística. Além da digitalização da cadeia de suprimentos e do uso intensivo de ferramentas como a Inteligência Artificial e a Tecnologia da Informação, uma aposta de especialistas é o estabelecimento de relacionamentos mais fortes com fornecedores para garantir uma boa cadeia de abastecimento.
Esse processo envolve a avaliação de fornecedores e recomendações dos melhores parceiros de negócios a fim de avaliar os riscos em cada etapa dessa cadeia e prevenir ou reduzir erros que resultem na escassez de estoques.
Outra tendência que deve se fortalecer é a realização de cadeias de abastecimento circulares, em que materiais e produtos são reutilizados a fim de diminuir custos diversos (desde os administrativos até os de transporte). Esse processo reduz o consumo de matéria-prima, cria valor e oferece um melhor atendimento aos clientes a partir de um processo contínuo de feedback.
Por fim, a tecnologia deve se tornar ainda mais complexa e abrir novas possibilidades de atuação. Um exemplo disso ocorre com entregas realizadas por drones. Essa é uma das tendências de logística mais aguardadas pelos consumidores e alguns estabelecimentos já começaram a utilizar esses aparelhos em suas entregas.
Uma das principais vantagens em usar essa tecnologia é reduzir os custos da entrega. Uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (AbComm) aponta que o frete continua sendo o principal responsável pelos custos logísticos no e-commerce (65,9% dos custos totais dessa etapa). Nos últimos anos, essa participação tem crescido mediante o aumento do preço de combustíveis e das tabelas dos Correios.
Por um lado, os drones reduzem o tempo de entrega mas, por outro, podem apresentar limitações de tamanho e peso, além de precisar de adaptações para levar cargas mais sensíveis com segurança.
Mediante um cenário cada vez mais complexo e competitivo, é essencial que a área da logística seja definida com cuidado, pois ela tem se revelado cada vez mais essencial para qualquer empresa que queira se manter no mercado. Hoje, essa área envolve tecnologias complexas que têm contribuído de forma relevante para melhorar os serviços, garantir uma melhor experiência aos clientes e, consequentemente, aumentar a lucratividade.